Quando falamos sobre o mercado de feiras de confecções no Brasil, certamente precisamos considerar a experiência, profissionalismo e o histórico do empresário Julio Viana, o gaúcho que conta com mais de 30 anos de experiência na organização e realização de feiras da indústria têxtil e de confecção. Atualmente o empresário organiza a Fenin que conta com edições em Gramado, São Paulo e Rio de Janeiro.
Algumas novidades marcam o calendário da Fenin 2016. A primeira delas é o lançamento da Fenin Inverno São Paulo, que acontece entre os dias 10 a 13 de Janeiro, no Palácio de Convenções do Anhembi.
A outra novidade é que a Fenin Sul que nasceu em 1997, em Canela, mudou-se para Gramado em 2000 e aconteceu em Bento Gonçalves nas últimas edições, agora volta a ser realizada em Gramado, já na próxima edição. Segundo o empresário o maior entrave para realização da feira em Bento Gonçalves era a questão das hospedagens porque a cidade não tem leitos de hotel suficientes para acomodar, expositores, compradores e imprensa.
“Vale ressaltar que apesar das questões de hotelaria, as edições da Fenin em Bento foram muito bem sucedidas e com números surpreendentes de visitação e geração de negócios. Em Gramado tem mais estrutura hoteleira e os expositores gostam da cidade. O pavilhão agora com ar condicionado vai ser mais aprazí-vel para todos”, declarou Viana.
A 20ª edição da Fenin Sul acontece entre os dias 19 e 22 de janeiro no Serra Park em Gramado que conta com uma área útil coberta de 25 mil metros quadrados, apresentando as coleções de roupas e acessórios para o Outono/Inverno 2016. Entre as atrações da feira estão o Salão Lingerie Brasil Sul, Espaço Interjeans Fashion, Tricô Moda Brasil, Espaço de Moda Masculina e Salão de Tecelagem.
Revista Têxtil – O que mudou da primeira Fenin para hoje?
Julio Viana – O que mudou basicamente foi que a confecção nacional começou a perder espaço para os im-portadores. As empresas que importam não o fazem por modismo, mas sim porque é necessário fazê-lo para sobreviver. Agora com a alta do dólar ficou inviável importar e as empresas começaram a se voltar para o mercado interno.
RT – O que o Senhor tem a dizer aos empresários do setor têxtil que sempre reclamam mesmo quando estão faturando?
JV – Não podemos ficar de braços cruzados. Já passamos por todos os planos e com inflação de até 80% ao mês. Temos uma capacidade de recuperação muito alta. O mercado sofre depuração e é uma seleção natural. Competência tem definido quem fica ou não no merca-do. Quem está procurando novos nichos e se adequando está tendo sucesso, isso depende da pujança de cada empresa. Acredito que a indústria nacional vai retomar o crescimento e as empresas que há cinco anos não estavam na minha feira agora estarão voltando porque estão vendo que o mercado interno será aquecido. Temos que seguir em frente. Reclamação falsa ou verdadeira não contribui com o crescimento de nenhuma empresa. Trabalho, trabalho e mais trabalho fazem a diferença num mundo tão competitivo.
RT – Porque o Senhor escolheu o Rio de Janeiro para lançar mais uma Fenin?
JV – Para atingir o mercado do nordeste e de outras regiões. O momento é difícil. A feira foi razoável para uma primeira edição e as empresas cariocas me procuraram para promover um evento para o Rio de Janeiro.
RT – Lançar uma feira nova em um período de crise como este não lhe pareceu arriscado?
JV – Não era o momento, mas os meus expositores que-riam este evento, inclusive as empresas cariocas que tiveram bons resultados com a feira.
RT – A Fenin sempre recebeu importadores e empresas estrangeiras, o que foi condenado pelo setor no Brasil e, no entanto hoje, temos feiras estrangeiras e feiras nacionais com estrangeiros como expositores. Como foi ser um dos primeiros a ter esta iniciativa?
JV – Conduzo meu negócio sempre prestando atenção no mercado e em sinergia com ele. Tenho uma clientela de 15 mil lojistas e eles pedem os importados. Há anos se fez necessário importar para conseguir se manter competitivo. Viajamos para a Europa e para os Estados Unidos e vemos que lá também se trabalha com importados. Pelo parque fabril que temos no País poderíamos ser a China da América do Sul e fabricar muito, porém o custo Brasil inviabiliza nossa produção. Pagar 42% de imposto sobre uma peça de roupa é uma loucura. Somos um mercado aberto e importar não é contra a lei. Com esta alta do dólar é hora de voltarmos à produção nacional.
RT – O que o Senhor acha que os brasileiros devem fazer para fazer frente à concorrência estrangeira no setor têxtil?
JV – Os chineses não perdem negócio, sabem negociar e se moldam de acordo com o mercado que atendem. Temos que fazer o mesmo dentro das nossas limita-ções. O dólar está possibilitando a produção nacional. Grandes empresas que importavam estão começando a trabalhar com o mercado interno e já estão querendo ir para feiras comprar dos fabricantes brasileiros.
RT – Quais as suas considerações finais acerca deste momento que estamos vivendo no País?
JV – O mercado está recessivo e o consumidor também está mais comedido com as compras. Esperamos que o Natal ajude o mercado a dar uma reagida. Acreditamos que as feiras devem ser boas em termos de visitação e geração de negócios, no entanto tudo deve acontecer com cautela. O mercado vai ser depurado por este mo-mento. Por um lado é bom, mas o ruim é que o mercado e a economia vão demorar a dar a volta por cima. O nosso problema e mais político que econômico. Não importa se o governo atual fica ou sai. O que importa de verdade é que tenhamos um plano para que o Brasil volte a crescer. O que está acontecendo no Brasil é um absurdo.
Fonte: Revista Têxtil